Por: Renata Cristina Bertolozzi Varela – Artigo no. 4 – 29/10/2012
Embora suas bases filosóficas possam ser encontradas desde a Antiguidade, é no início do século XX que minha profissão se constitui como categoria dentro da área da Saúde. De qual profissão estou falando? Da Terapia Ocupacional. E que bases filosóficas são essas? A compreensão de que o ser humano se constrói e se caracteriza por aquilo que ele FAZ, e que a atividade é um recurso de cuidado à saúde das pessoas.
Por ser uma profissão relativamente nova, que ainda luta pela solidificação do seu campo de atuação, é possível que a maioria dos leitores deste blog nunca tenha ouvido falar dela ou, se já ouviu, não sabe muito bem o que é. E é isso que pretendo explicar.
Na correria do dia a dia, trabalhamos, nos relacionamos, administramos a casa, cuidamos dos filhos, passeamos e viajamos, enfim, desempenhamos diferentes papéis que nos fazem nos sentir produtivos e incluídos no contexto social que nos cerca.
Mas você já parou pra pensar quantos indivíduos estão à margem deste social? Muitas pessoas em situação de rua, com transtornos mentais, deficiência física, intelectual ou sensorial, idosos, usuárias de drogas, entre outras, em função de necessidades particulares e diversificadas, apresentam dificuldades em realizar atividades e estruturar sua vida cotidiana.
Esses são os sujeitos com os quais o terapeuta ocupacional trabalha, usando técnicas e recursos que os incentive a aprender e desenvolver habilidades, a conquistar independência e autonomia, a construir espaços produtivos e buscar sua inclusão social. É uma questão de saúde…
Eu, particularmente, trabalho com crianças, jovens e adultos que, em decorrência de uma lesão neurológica, apresentam sequelas de ordem motora, cognitiva ou sensorial, com dificuldades para se movimentar, compreender ou perceber os estímulos do ambiente.
Sustento minha formação profissional em procedimentos específicos que me capacitam a lidar com estas dificuldades e até minimizá-las e direciono minha intervenção para auxiliar esses sujeitos a fazer coisas, apesar de sua condição. E que coisas? Muitas, várias, infinitas, dependendo do desejo e da necessidade de cada um… Mas posso exemplificar: brincar – apesar de, frequentar a escola – apesar de, aprender a amarrar um sapato – apesar de, ter a oportunidade de escolhas – apesar de, voltar a trabalhar – apesar de… Tarefa muitas vezes árdua nesta sociedade em que vivemos e por isso parte de nosso trabalho é também de fazer modificações no ambiente, eliminar barreiras, orientar pessoas e ressignificar preconceitos.
Pense em uma pessoa que, já na vida adulta, sofre um acidente vascular encefálico e apresenta dificuldades em realizar movimentos com seu corpo, necessitando de uma cadeira de rodas para se locomover… Ou em uma criança que passou por complicações no parto e que tem dificuldade para falar… Quais modificações precisam ser feitas no ambiente para que possam circular sem restrições? Quais estratégias podem favorecer sua comunicação e os relacionamentos sociais? O que podem fazer – apesar desta condição? Este é o projeto sustentado por esta tríade constituída pelo terapeuta ocupacional, o sujeito atendido e as atividades que realizam no setting terapêutico.
Sou apaixonada pelo que faço e por isso fui convidada a postar neste blog… Nesta altura você deve estar se perguntando o que me motivou a escolher esta profissão, que parece ser tão interessante, mas ainda tão desconhecida e muitas vezes pouco valorizada (o pessoal do mundo business ficaria espantado com alguns salários praticados no mercado…)
Piedade? Assistencialismo? NÃO! NADA DISSO! Por favor, esta é a minha profissão! Através dela sustento e organizo a minha própria vida cotidiana.
Além de uma pitada de idealismo, minha motivação encontra-se na possibilidade de colocar em prática no mundo profissional, princípios éticos que regem minha vida pessoal, embasados principalmente na crença do valor da diversidade humana. Concordando com Boaventura de Sousa Santos:
“Temos o direito a sermos iguais quando a diferença nos inferioriza. Temos o direito a sermos diferentes quando a igualdade nos descaracteriza. As pessoas querem ser iguais, mas querem ser respeitadas por suas diferenças. Ou seja, querem participar, mas querem também que suas diferenças sejam reconhecidas e respeitadas.”
Quer saber mais sobre Terapia Ocupacional? Consulte: www.ceto.pro.br, www.wfot.org.
Renata Cristina Bertolozzi Varela é terapeuta ocupacional graduada pela USP, mestre em “Ciências da Reabilitação” pela USP, especialista em “Terapia Ocupacionalem Reabilitação, Recursos Tecnológicos e Inclusão Social da Pessoa com Deficiência” pela USP, formada em “Terapia Ocupacional Dinâmica” e no “Conceito Bobath”. É sócia e terapeuta ocupacional do Espaço de Acesso, onde realiza atendimento clínico, supervisão de profissionais, assessoria à escolas e formação de professores.
E-mail: renatacbv@hotmail.com